sexta-feira, 30 de julho de 2010

Todos os dias morre um amor


Todos os dias morre um amor.
Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor.
Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina.
Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos.
Morre em uma cama de motel ou em frente à televisão de domingo.
Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios.
Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas, beijos que esfriam aos poucos, e-mail que deixamos de mandar ou responder....
Morre da mais completa e letal inanição.
Todos os dias morre um amor.
Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro.
Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria que na prática, re lutemos em admitir.
Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso.
De saber que, mais uma vez, um amor morreu.
Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa.
E esta é a lição: amores morrem.
Com o tédio, a indiferença, traição ...
A sacola de presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio insuportável depois de uma discussão: todo crime deixa evidências.
Todos nós fomos assassinos ou assassinados um dia. Há aqueles que, como o Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder de baixo da cama, ao lado do bicho papão. Outros confessam sua culpa ou sua inocência em altos brados e fazem de pinico os ouvidos alheios. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria, sem dor ou remorso.
Os mais periculosos aproveitam sua experiência de criminosos ou vítimas para escrever livros de auto-ajuda, com nomes paradoxais como "O Amor Inteligente" ou romances açucarados de banca de jornal, do tipo "A Paixão Tem Olhos Azuis", difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações cicatrizados.
Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos.
Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão.
Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias, um amor eterno que nunca acabou porque também não aconteceu.
Mas não arrisco a classificar isso como amor (Bah, isso não é amor. Amor vivido só do pescoço pra cima não é amor).
Existem, por fim, os AMORES-FÊNIX. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, dos preconceitos da sociedade, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da mesa-redonda no final de domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro, das toalhas molhadas sobre a cama e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram: teimosos, belos, cegos e intensos...



Li este texto uma vez, achei lindo e verdadeiro. Não basta amar,o amor é um sentimento que precisa ser nutrido, demonstrado.
E hoje? Já beijou quem você ama?

4 comentários:

  1. De uns tempos pra cá, tenho notado que tristonho tem que ficar com tristonho, e risonho com risonho. Digo-o por ter percebido esse fato através de um "insight" muito feroz, de uma coisa aparentemente boba, e que de tão boba passa desapercebida entre todos.

    Normalmente o tristonho sente-se atraído pelo risonho (mas isso é só no início), depois com o passar do tempo, se o risonho não transformar o tristonho em risonho é sinal de que o risonho fracassou. E aí o bicho pega... ou o risonho se transforma em tristonho (o que é muito comum), ou se tentar permanecer risonho o tristonho sempre dirá quando ver o risonho olhando-o e rindo: Está tirando uma da minha cara F.D.P?

    Essa coisa de risonho e tristonho é muito séria. Se eu fosse presidente da republica separaria os tristonhos dos risonhos. Risonhos para a direita e tristonhos para a esquerda. Os risonhos se casariam entre si com a missão de alegrar a vida dos tristonhos. Parece besteira, mas não é.

    Li há algum tempo atrás numa revista estrangeira que uma empresa considerada inovadora na gestão praticava o sorriso como rotina na hora de recrutar. Se a pessoa fazia rir o entrevistador, boas chances. Caso contrário, as alternativas eram se esforçar para ser mais bem humorado e tentar de novo mais adiante ou então bater em outra porta. A lógica inatacável é que é mais fácil conviver com gente que sabe rir e fazer rir.

    E tudo isso, com as devidas adaptações, se aplica a uma relação amorosa. Um caso de amor sem risadas constantes está tecnicamente morto. Não existem orgasmos múltiplos que salvem um casal que deixou de rir. O bom humor precede o sexo como termômetro de um relacionamento. Quando e se o sexo arrefece, pode acreditar: as risadas arrefeceram antes.

    Rir é uma demonstração sublime, superior de sabedoria amorosa. No amor, o humor tem uma virtude lateral mas relevante: o riso torna a pessoa mais bonita e mais atraente. A carranca enfeia. Uma mulher sistematicamente feroz como um cossaco russo é uma mulher para ser atirada na lata de lixo. Mesmo que seja linda e excepcionalmente dotada na arte do sexo. A beleza passa e o êxtase proporcionado por um grande momento sexual se mede em minutos, segundos até. Mas o mau humor de quem não sabe rir é duradouro.

    Beijar eu ainda não beijei, porque me parece que tristonho não gosta de beijar risonho, e nesse ponto acho que vou parar por aqui, pois penso que nesse caso nem Freud explica.

    Beijos virtuais à ti.

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  2. Que dureza!
    Tem coisa que nem Freud explica mesmos.
    Recentemente fiz uma terapia chamada constelação familiar! Eu recomendo.
    Cheguei à conclusão que 90% das coisas que nos deixam tristes é porque permitimos que façam conosco.
    Bjs

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  3. É, certamente que a culpa é sua, a culpa aqui também é minha, e tudo porque (como você mesma já está sabendo) somos nós, cada um de nós, que permite que determinadas coisas aconteçam.

    E te digo mais, parece que é gostoso ser burro e só tomar na cabeça errando, achando que tudo se resolve por si mesmo, e que no fim dá tudo certo.

    Em termos...

    Eu tenho uma formação freudiana e posso dizer-lhe que independente da TPM, você é uma pessoa que sofre muito.

    Sofre por ser pessoa interativa.

    Normalmente, o interativo sempre sofre por falta de cumplicidade na altura que necessita para tocar a vida com satisfação.

    E é sempre o "pacato" que ama o interativo, que se atraí por ele e de início tenta conquistá-lo. Mas o tempo passa, e com o passar do tempo é o interativo que começa a fazer sérias cobranças. E ninguém gosta de ser cobrado, e homem muito menos.

    À partir daí, numa relação a dois o que antes era amor passa a ser sexo. E começa a faltar aquele famoso Beijo. Lembra dele?

    Quando eu era criança costumavam dizer na escola que amor sem beijo é o mesmo que macarrão sem queijo. Eu particularmente até posso comer macarrão sem queijo na casa de alguém que me convide apenas para não fazer desfeita, mas no fundo se o macarrão não tiver um queijo parmesão espalhado por cima: Juro que fico com uma cara de curaraú que você nem imagina.

    E de risonho passo a ser tristonho.

    Bjo.

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