segunda-feira, 9 de março de 2015

Antídotos



É impressionante a capacidade que a gente têm de criar antídotos pra nossa própria vida.
Fui assaltada há cinco dias a caminho do aeroporto, logo cedo, com meu marido e uma amiga...roubaram tudo, carro, dinheiro, material de trabalho, as malas que estavam no carro com tudo do bom e do melhor que comprei fruto de muito trabalho...e junto com a sensação de impotência vem a sensação otimista de que "- Nada aconteceu!" "- Estamos bem!"
E então a gente reprime o choro, porque mesmo depois de ser assaltados devemos ser gratos!
E o corpo dias depois ainda reage, pensando qual é mesmo a melhor forma de lidar com isso?
Será que a vida moderna é um jogo de antídotos?
Se estamos infelizes com a vida presente, focamos no passado, e em tudo que foi um dia para justificar a falta de coragem de mudança?
Se o trabalho não realiza profissionalmente, o foco então são as contas pra pagar...a crise financeira...
Se o governo atual não tá bom, pelo menos eu não votei nele, ou o anterior roubava mais... ou ainda, não vejo mais o noticiário!
Se o casamento já não te faz feliz, é melhor ficar casado do que ficar sozinho! Ou ainda, foca nas qualidades...
E são tantas razões para sermos meio felizes... meio seguros... meio humanos.
Que fica difícil saber como sentir, amar, gostar, curtir e até mesmo sofrer de verdade.
E a segurança, a felicidade, a tomada de decisão e o sofrimento em si, parecem atos dissimulados... desmerecidos... ou ainda OTIMISTAS!
E eu que sinto, penso, ajo, decido, amo... sinto-me escorregando entre os viézes hipócritas insonsos daqueles que não têm o domínio das próprias percepções. Cobaias de um laboratório gigante, que criou gerações conformistas.
E ainda que hipérbole: assustada, grata, rasgada por dentro.... revoltada e católica! Cheia de amor, certezas e dúvidas....
Trago um punhal nos dentes, olhos cheios de lágrimas, braços fortes, isenta de antídotos.