
A gente acostuma com tudo...
Eu pelo visto, acostumei com a falta de gentileza.
De noitinha, eu cansada, nervosa, desembarcando de uma viagem de trabalho, mooooorrrrrta, num daqueles dias em que relembrar a frase “Felizes os ingênuos, os burros e os Filhos da Puta” é premissa básica, entrei num daqueles ônibus de Congonhas que levam até a saída do aeroporto. A maioria homens, executivos, sentados.
Ônibus lotado, entrei, ajeitei o salto, a mala, a mochila, o casaco e segurei em um daqueles apoios do ônibus, equilibrando.
Um rapaz de uns dezoito anos, acho que o mais novo no recinto, prontamente levantou e disse sorrindo: “- Pode sentar!”
Eu senti vergonha, minhas bochechas esquentaram, e respondi fazendo que não com a cabeça super sem graça: “- Não precisa!”
Ele ainda de pé: “- Senta!” E não, não estava me paquerando.
Sentei e fiquei dura, com a cabeça baixa. E olha que pra me deixar com vergonha....
Alguns dos caras ficaram com cara de otários, outros fingiram que não viram. Éramos umas dez mulheres no ônibus lotado, e sentadas, eu, graças a gentileza do rapaz, e mais duas.
Foi quando pensei no post. Olhei pro menino e quis contar pra ele: “- Ó, vou escrever sobre isso no meu blog....” Mas pra não parecer idiota, nerd, chavequeira ou caipira, quando o ônibus parou, fiquei de pé, sorri e agradeci de novo.
Milagrosamente, outros três caras, os que estavam com cara de tacho por não terem tomado a mesma atitude que o rapaz, deixaram que eu descesse do ônibus na frente deles, com àquele sorrisinho amarelo de “eu também sou legal”, já que gentil é uma palavra muito forte pra eles.
E eu, ainda assim, desci com vergonha de tudo isso.
Será que a vida moderna vai mesmo conseguir sufocar algo tão elegante e sensual como o cavalheirismo?
Será que o excesso de independência fez eu esquecer que sou mulher e que gentileza é legal?!
Ficou claro pra mim, que a gente se acostuma com a grosseria, com a falta de educação. Acho que a violência em si está banalizada com tantos noticiários sensacionalistas.
Ficou claro também que gentileza, gera gentileza... e que é preciso que alguém dê o primeiro passo.
Vou fazer um teste:
Uma semana, pelo menos uma vez por dia, farei uma gentileza para alguém a moda antiga. E vamos ver o que me espera...
Alguém mais topa?!