sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A garota no closet



A garota dentro do closet, estava sentada, encolhida...acoada... De repente começou a se olhar de canto no espelho... fez isso por horas. Chorou até que borrasse o rímel. Limpou com a mão, escorreu ainda mais.
Com o nariz entupido e o rosto inchado, percebeu que não havia nada de errado com ela, somente com o que ela esperava do mundo. Mas como ela não aprendeu a não esperar nada de ninguém, resolveu se reinventar. Jogou fora as antigas cartas, rasgou os poemas escritos e nunca entregues... cortou cabeças de fotos. Deletou nomes dos amigos no facebook...Doou sapatos novos e lindos que machucavam os pés, e com eles as calças quarenta que nunca mais voltariam a servir. Jogou fora os diários que virariam um livro. E antes que desaparecesse no meio do lixo, obrigou-se a ficar em pé, em frente ao espelho.
Sentia-se exausta e ao mesmo tempo leve, e feia...com sede de mudança.
Tirou a roupa, e ainda que em frente ao espelho, não teve coragem de se encarar. Sentou no chão. Pegou uma pinça e tirou as sobrancelhas, procurou a tesoura e aparou os pelos... então encarou o espelho, e com ele, os cabelos ressecados, presos num coque de pontas espetadas... começou a cortá-los, de maneira voraz, bagunçados como a sua cabeça. Abriu o armário. Encontrou uma tintura qualquer e aplicou na cabeça,
manchando a testa, as orelhas, as coisas espalhadas no chão. Pintou também as sobrancelhas, encarou o espelho e sorriu, com a imagem assustadora, divertida e melecada que assistia.
Continuou sentada no chão, um pouco mais relaxada, esperando o tempo passar, a tinta agir...como se toda a sua vida dependesse da mudança da cor do cabelo.
Depilou as pernas... perguntando a si mesma, como podia ter deixado os pelos chegarem a este tamanho.
Pintou as unhas de azul.
Correu pro chuveiro e enxaguou a cabeça, e a tinta que escorria levava consigo qualquer lembrança triste.
Secou-se cantarolando e dançando, com um sorrisinho alegre de quem acaba de ter um orgasmo.
Secou o cabelo bagunçado com o difusor, almejando por um visual selvagem, libertador.
Abriu a gaveta e escolheu um vestido floral bem alegre... um pouco mais curto que o normal.
Pulou rebolando as coisas no chão como se estivesse se divertindo com seu próprio caos, e foi pra rua passear com o cachorro...testar o poder da sua mudança.
Sentiu- se leve e bela...ainda que seus olhos doessem com a claridade, ela estava lá, do lado de fora do closet.
É tarde da noite, e a garota de volta ao closet está pensando na bagunça que deixou espalhada no chão... e que precisa ser arrumada. Mas hoje, não...hoje, ela já foi longe demais!

Nenhum comentário:

Postar um comentário